Veja abaixo a eventual eficácia e possíveis efeitos da medida, segundo especialistas:
Mudanças de hábitos e pouca economia de energia
O professor Luciano Duque, mestre em Energia Elétrica, aponta que os hábitos de uso de energia da população mudaram ao longo dos anos. Agora, mesmo nos horários em que há luz solar, é usada muita energia elétrica em aparelhos como ar-condicionado e ventiladores.
Assim, o efeito de postergar a hora de acender as luzes de casa e da rua é menor do que foi no passado.
"Nós estamos num período de calor intenso, onde as cargas mais utilizadas são ar-condicionado, condicionadores de ar, ventiladores. Essas cargas consomem bastante energia durante o período de verão, muito mais que a iluminação, até mesmo mais que o chuveiro", explicou o especialista.
Por isso, a economia de energia não será significativa com o horário de verão.
"O perfil de consumo de energia elétrica modificou as maiores cargas nesse período de calor intenso. Não é chuveiro e tampouco iluminação. Não faz a diferença, ou seja, a gente não tem economia de energia significativa com a implementação do horário de verão", completou.
Pequena ajuda no início da noite
O engenheiro Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil — um observatório do setor elétrico no país — informou que, pelos motivos apresentados acima, a economia com o horário de verão chega no máximo a 0,5% do consumo de energia, de acordo com estudos do ONS.
Mas, de acordo com o especialista, o horário de verão poderia dar uma pequena ajuda no início da noite, quando energia solar e eólica decaem. Nessa hora, as pessoas estão chegando em casa do trabalho e ligam vários aparelhos. Se o horário de acionar a iluminação das casas e das ruas for um postergado em uma hora, pode haver um pequeno benefício para o sistema.
"Antigamente, o pico máximo de consumo ocorria no final do dia. Hoje, ocorre no meio do dia, e o horário de verão não interfere nisso. Mas no fim do dia, ainda há uma pequena influência. No momento em que a geração solar, que é cada vez mais relevante, começa a cair, entram em ação fontes de energia flexíveis, como hidrelétricas e termelétricas, para atender à demanda", explicou.
"Esse acionamento de usinas ocorre em uma 'rampa' para suprir o pico de consumo no final do dia. Mesmo que a influência do horário de verão seja pequena, ela ajuda a atenuar essa rampa, reduzindo um pouco a necessidade de esforço das usinas", completou. Sales lembrou que, nessas horas, a alternativa é ligar as termelétricas, mais caras e mais poluentes. Portanto, quanto menos termelétricas forem ligadas, melhor.
"Em resumo: do ponto de vista energético, o horário de verão praticamente não muda a quantidade de energia consumida. Não há uma economia significativa, no máximo de 0,5%. No entanto, no final do dia, quando a geração solar diminui, ele ainda oferece uma pequena ajuda ao reduzir a demanda na ponta do consumo", sintetizou Sales.
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Alternativas
Os dois especialistas ressaltaram que, independentemente do horário de verão, é importante o governo tomar atitudes para preservar a capacidade de produção de energia do país.
O professor Duque também lembrou que o horário de verão traz alguns inconvenientes para pessoas que demorar a se adaptar ao relógio adiantado e também àqueles que acordam cedo e se veem obrigados a sair de casa no escuro.
"Medidas mais educativas, no sentido da população economizar energia, seriam medidas mais eficientes do que a implementação de um horário de verão, que não vai conseguir economizar energia o suficiente para o transtorno que ele traz para a população", argumentou.
Ele citou ações que o governo, por recomendação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), já está tomando para preservar as hidrelétricas, como aumentar a conta de luz e autorização para usinas operarem com vazão menor, resguardando o lago.
"Essas medidas, junto com o planejamento que o Operador Nacional de Sistema Elétrico vai fazer, no sentido de quê? De economizar um pouco de água dos reservatórios. Vai utilizando as energias solar e eólica naquele período, faz uma utilização máxima delas e reduz um pouco a utilização das hidrelétricas", concluiu.
Sales, do Acende Brasil, observou que os reservatórios do país não estão tão baixos para um período de seca e que, se as chuvas vierem a partir dos próximos meses, quando começa a estação das cheias, o país não deve ter problemas no fornecimento de energia.
"Temos, sim, o nível dos reservatórios em uma situação que nos permite passar com tranquilidade por esse período. Dito isso, houve uma reunião do CMSE que, do meu ponto de vista, acertadamente determinou algumas medidas para preservar essa água. Só vamos ter certeza do que esperar quando se trata de questões meteorológicas, e teremos uma convicção mais sólida quando chegar novembro, com o início da estação das chuvas", afirmou.
O que diz o ministério
Questionado sobre as probabilidades de adoção do horário de verão, o Ministério de Minas e Energia disse que está fazendo os estudos para embasar a decisão e está considerando fatores como a previsão de chuvas e as consequências da medida na economia.
"O retorno do horário de verão deve ser analisado sob diversos aspectos, como a geração de energia, os índices pluviométricos e, também, os aspectos econômicos da medida", informou a pasta.